Adultos medíocres, entre muitas outras coisas, são também aquelas que, quando crianças, aprenderam com seus pais ou nas suas relações sociais primárias a se acharem, num extremo, melhores que todas as outras crianças, incluindo seus irmãos ou, no outro, incluído também seus irmãos, impotentes, incompetentes, piores que todas elas.
Sintetizando, são, por um lado, pessoas que se acham superpotentes em relação às outras e, por outro lado, piores do que qualquer um.
Enquanto os pais Emancipados criam seus filhos, não com regras rígidas de conduta e convivência, mas com o exercício da reflexão a partir do diálogo, visando desenvolver neles a capacidade de enxergar a vida sobre diferentes ângulos e estimulando-os a tomada de decisões, assim como a serem responsáveis por seus atos, os pais Medíocres, numa outra via, ou os punem ditatorialmente, oprimindo-os, coagindo-os, usando de todo tipo de violência, ou então passam a mão na cabeça dos seus filhos rebeldes, subestimando o problema.
Essas crianças deste muito cedo aprendem ou a serem cruéis diante do erro dos outros e dos seus, punindo-os ou punindo-se severamente ou, numa outra via, viram defensores da libertinagem e do “tudo pode”.
Os valores da Mediocridade, nesse sentido, quando aprendidos desde a infância, ganham força no dia-dia do indivíduo, através do que se chama de “bom senso” e “senso comum” e não permite ao ser enxergar qualquer incompatibilidade substancial ou paradoxo essencial entre eles, uma vez que os valores da Mediocridade, incorporados na família, são, na sua raiz, apenas os reflexos da mesma sociedade desumanizante na qual foram criados seus pais.
Por exemplo, o senso comum diz que os pobres roubam; que os negros são inferiores, que os pobres mendigos não são gente. Logo, o bom senso diz que: não se deve conviver com eles e nem tampouco respeitá-los. E o pior: Vê-los como uma espécie de transgressor e de criminoso em potencial, ainda que inconscientemente.
Existe uma Mediocridade na psique social que se torna a psique Medíocre do indivíduo, numa espécie de círculo vicioso, historicamente falando. Esses pais medíocres, muitas vezes, nem mesmo sabem que os são. Agem dessa forma porque assim foram criados e porque é assim, no seu contexto social, que quase todos os pais fazem.
Pedagogicamente falando, é na socialização primária e nos primeiros anos do ensino fundamental, socialização secundária, que os traços essenciais do caráter e da personalidade de uma criança se dão, e que, segundo Piaget, vão desde o período sensório motor, do nascimento, passando pela fase simbólica, aproximadamente aos três anos, culminando no período operatório concreto, por volta dos cinco ou seis anos e terminando no período operatório abstrato, por volta dos dez ou onze anos.
Há estudos recentes inclusive que dizem que essa formação do caráter e da personalidade é muito mais curta, ou seja, que se dá aproximadamente até os cinco ou seis anos.
Uma das formas de se poder combater esse tipo de mediocridade, desumanização infantil, originada especificamente no seio familiar, a partir da socialização primária, sem sombra de dúvidas, seria dar a possibilidade de essa criança vir a poder ter acesso a uma educação infantil de qualidade, no que diz respeito aos preceitos da humanização e no que diz respeito ao desenvolvimento da emancipação intelectual.
Todavia, como veremos a seguir, as instituições educativas, como sendo ideologicamente reprodutoras e não transformadora da sociedade do capital, reprodutora dos valores Individualistas e Meritocráticos do capitalismo, como salientaram vários intelectuais como Althusser, Paulo Freire e Pablo Gentili, fracassa nesse processo, ou seja, ao invés de educar, deseduca, ao invés de humanizar, desumaniza, ao invés de ensinar a pensar, adestra e treina o indivíduo para ter pensamentos.
Ou seja, a escola, não transforma a sociedade, mas submete-se aos seus valores, reproduz e sistematiza-a com todas as suas mazelas sociais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário